Você já deve saber que o desperdício corrói o nosso dinheiro. Mas você sabe como o desperdício na construção civil afeta os seus ganhos e a sua lucratividade?

Talvez você nem esteja percebendo, mas sua obra pode estar drenando o seu dinheiro com tanto alguns tipos de desperdício “invisíveis”. Ou você até já percebeu, mas ainda não sabe como controlar isso.

É sobre isso que quero falar com você neste artigo: o desperdício oculto, aquele que não é tão fácil de identificar. Continue lendo para descobrir.

Desperdício Exagerado na Construção Civil: Mito ou Realidade?

Ainda se ouve algumas pessoas dizendo a respeito do desperdício na construção civil que “a cada 3 prédios construídos, 1 é desperdiçado” . Mas isto é um mito!!!

Há muito desperdício na construção civil sim, mas não é para exagerar tanto!

As pesquisas desenvolvidas pela Escola Politécnica da USP concluíram que as perdas de materiais chegam a 8% e as perdas financeiras, inclusive aquelas relativas a custos de re-trabalhos, chegam a 30%. Mesmo não sendo um prédio desperdiçado a cada três construídos, esse número de desperdício é bem expressivo.

A maioria das pessoas pensa que desperdício na construção civil é apenas aquele entulho que fica nas caçambas espalhados pelas calçadas das ruas. Mas, no meio técnico, o conceito de desperdício é bem mais amplo.

Desperdício é consumir exageradamente qualquer tipo de recurso. Uma perda ocorre quando se utiliza uma quantidade maior que a necessária de um dado insumo.

Há 4 tipos de desperdício, vamos chamá-los de “perdas”:

1. Perda Material

As perdas de material são as mais fáceis de identificar: é o entulho gerado, são os pedaços de blocos e tijolos quebrados, sobras de madeira, pedaços de aço, areia que se mistura com o solo, saco de cimento mal armazenado, além dos pequenos furtos.

Além desse desperdício visível a olho nu, há um tipo de desperdício que você não percebe e que acaba com a lucratividade da sua obra. É a perda incorporada.

O que é perda incorporada?
Este tipo de perda é tudo aquilo que fica incorporado na execução dos serviços. É o tipo de desperdício oculto. São recursos que não saem da obra como entulho, e que não precisava ter sido consumidos. A perda incorporada é como um ralo por onde escorre o seu dinheiro sem você perceber.

Exemplos de perda incorporada
Um exemplo de perda incorporada é uma laje cujo projeto estrutural pede uma espessura de 15cm. Durante a concretagem, o engenheiro não controlou a espessura de maneira mais rigorosa, e a laje ficou com 16 cm. Parece bobagem, não é mesmo? Afinal o que 1 cm iria impactar no meu orçamento?

Grande engano! Esse 1 cm a mais vai impactar em um aumento de quase 7% de concreto a CADA METRO QUADRADO de laje executada!! Essa porcentagem aumenta para 10% se a laje fosse de 10 cm e você a executasse com 11 cm! E 25% de aumento em concreto se a laje fosse de 8 cm!!

Agora imagine um prédio com vários pavimentos e essa porcentagem se repetindo… Seu dinheiro está indo para o ralo: sim ou com certeza?

Essa mentalidade errada de que não é possível conseguir uma precisão dimensional em centímetros ou até mesmo milímetros vai fazer sua lucratividade final escorrer por água abaixo.

Criar o hábito de medir e mensurar vai evitar que este e outros tipos de desperdício na construção civil levem seu dinheiro embora (ou o dinheiro do seu cliente).

Outro exemplo clássico de perda incorporada é o uso da argamassa em excesso para corrigir algum erro de execução.

Parede fora de prumo, contrapiso desnivelado, e por aí vai. O pedreiro já está habituado a corrigir tudo na massa, mas o que ele não sabe é que essa espessura a mais não está listada no orçamento.

Veja abaixo nas imagens exemplos nítidos de desperdício da argamassa:

E como resolver isto?
Algumas alternativas são: melhorar o treinamento, conscientizar a mão de obra, supervisão eficiente, estar presente no canteiro, aprender com lições de outras obras, aprimorar o controle no campo, aplicar gestão de obra. Paginação de paredes, distribuição de materiais em paletes, estocagem correta e transporte interno em equipamentos adequados, layout do canteiro, entre outras. Estas são apenas algumas boas práticas que podem amenizar as perdas.

2. Perda de mão de obra
As perdas de mão de obra se associam a uma má gestão de produção. É preciso estar atento, pois nem sempre é fácil identificar quando acontece esse tipo de perda.

A ociosidade dos trabalhadores é um tipo de perda de mão de obra, e é um tipo fácil de identificar. Se a mão de obra está ociosa, pode ser que há uma equipe inchada pra executar a mesma tarefa. O ideal é transferir alguns ajudantes para outra frente de trabalho e perceber se há aumento da produtividade.

Outro tipo de perda de mão de obra é quando falta o material necessário para executar os serviços. Imagine uma equipe inteira sentada esperando a argamassa ou a cerâmica chegar para começar a trabalhar? Advinha só quem é que está pagando esta conta!

Há também o desperdício oculto. Este tipo ocorre quando os trabalhadores se deslocam entre pontos muito distantes para realizar uma tarefa. Os materiais ficam muito longe de onde o serviço está sendo executado e perde-se muito tempo com uma logística interna ruim. Neste caso, é necessário reduzir as distâncias.

Outro tipo de perda de mão de obra é a localização de sanitários, refeitórios e relógio de ponto longe do local de trabalho dos funcionários. A localização desses pontos estratégicos tem que ser estudada a fundo no projeto de implementação do canteiro de obra.

3. Perdas de Equipamento
As perdas de equipamento se assemelham com as perdas de mão de obra e suas causas são o mau dimensionamento da proporção entre equipamentos pelo tempo de ciclo e má orientação pelos encarregados.

Alguns exemplos são caminhão na fila da escavadeira/ carregadeira, escavadeira/ carregadeira esperando caminhões e guindastes locados em dias de fortes ventos.

4. Perdas Financeiras
As perdas financeiras ocorrem de falta de estratégia comercial. Uma delas é comprar tudo de uma vez e manter o estoque lotado.

Isto é um sinal de má gestão de compras, pois o dinheiro foi gasto com elementos que ainda vão demorar a serem utilizados, e este mesmo valor poderia ter sido aplicado ou investido para outras necessidades mais urgentes.

Outro tipo de má gestão comercial é quando você dimensiona mal a quantidade de insumos a ser comprados, e na segunda compra o valor total acaba saindo mais caro, fora o frete adicional.

O que fazer para evitar o desperdício na construção civil (Principalmente a perda incorporada)?
Lembre-se disso: “Não conseguimos gerenciar aquilo que não conseguimos medir.”

Sabendo disto,é necessário que alguém se encarregue de criar um sistema de indicadores que forneça informações úteis e confiáveis para a aferição de desempenho.

Para montar um plano de controle, escolha os principais insumos e serviços e componha o sistema de indicadores através da coleta de dados no campo e no almoxarifado.

Todo esforço valerá a pena quando você for um profissional capaz de driblar e eliminar o desperdício de sua obra ou da obra de seu cliente. Esta habilidade (que pode ser aprendida e treinada) vai te diferenciar de muitos profissionais por aí.