junho 23 2020 0Comentário

Vendas de imóveis de baixa renda salvam setor imobiliário de queda maior na crise

Assim como aconteceu na última crise econômica, iniciada em 2014, as vendas de imóveis para a baixa renda, concentradas no programa Minha Casa, Minha Vida, vêm mostrando muito mais resiliência do que as de propriedades de médio e alto padrão durante a pandemia.

Dados de uma pesquisa da Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias) mostram que, enquanto mais da metade (54%) das incorporadoras de médio e alto padrão tiveram uma queda de vendas mais forte por causa do coronavírus (uma redução de entre 60% e 80% em relação ao ano passado), esse percentual é de apenas 10% no caso da habitação popular.

Não que esse segmento não esteja sendo afetado pela crise que levará o país à maior recessão em uma década em 2020. A diferença é que a maior parte das empresas que atende o Minha Casa, Minha Vida veem uma queda menor nos negócios, de 20% a 40% nas vendas.

Não é a primeira vez que a força do Minha Casa, Minha Vida é posta à prova durante um período complicado. Para se ter uma ideia, em 2017, ano em que o país começava a se recuperar da crise, o lançamento dos empreendimentos do programa cresceram 23,2%, quase o dobro da expansão verificada no médio e alto padrão.

Tanto que sua participação foi crescendo ao longo dos anos, e responde hoje por 79% dos lançamentos e 71% das vendas no país, de acordo com a Abrainc.

“O setor imobiliário está sofrendo com a pandemia, mas poderia estar sofrendo muito mais se o mercado de baixa renda não tivesse a resistência que possui nas crises que o Brasil enfrenta”, observa Luiz França, presidente da entidade.

Aluguel e parcelas do crédito são similares

Uma das razões para essa resistência é que o mercado de imóveis populares tem muito mais consumidores querendo sair do local onde vivem, que muitas vezes é compartilhado por outros familiares ou possuem más condições de moradia.

O deficit habitacional brasileiro é de 7,8 milhões de moradias. “Desses, 70% são pessoas que compram imóveis de baixa renda”, diz França. “Há muito desemprego, e isso afeta as vendas negativamente, mas a demanda é tão grande que ainda tem muita gente buscando imóvel nessa faixa. Já em médio e alto padrão, a retração é maior”.

Outro ponto importante é que muitas famílias de menor poder aquisitivo vêm percebendo que não há muita diferença entre o aluguel e as prestações para pagamento da casa própria. “Os valores das parcelas acabam sendo similares”, afirma o executivo.

Programa em reformulação

Apesar de a baixa renda estar ajudando o setor imobiliário a evitar uma queda de vendas maior neste ano, a pandemia acabou emperrando os planos do Ministério do Desenvolvimento Regional de reduzir os juros no financiamento das faixas 1,5 e 2 do Minha Casa, Minha Vida.

A pasta defendia o corte para ampliar o número de beneficiários, mas a área econômica resiste à medida porque o caixa do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), de onde saem os recursos para o programa, já está sobrecarregado pelas ações de socorro por causa do coronavírus.

A revisão das taxas do programa é um dos pontos em discussão no âmbito da reformulação do Minha Casa, Minha Vida, que deve ser rebatizado de “Casa Verde Amarela” diante do desejo do governo Jair Bolsonaro de alavancar uma marca própria em políticas sociais.

 

Fonte: Estadão Conteúdo

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